O ano
de 2022 inicia com uma explosão de contágios provocado pela nova variante Ômicron
(o), e as regras de contingenciamento retornam em todo o mundo para tentar
mitigar a propagação acelerada da covid-19. O contexto atual da pandemia no Brasil
é totalmente diferente dos anos iniciais, pois temos cerca de 70% da população
imunizada, (ver gráfico 02) uma nova variante muito mais transmissível
que suas antecessoras, um apagão (sabotagem) nos dados e estatísticas oficiais sobre
a pandemia e um comportamento diferente da população que voltou às atividades e
níveis de mobilidade pré-pandemia.
O
reinício das aulas em Educação Física mais uma vez foi adiada na Universidade
Estadual de Goiás (Unidade ESEFFEGO localizada na cidade de Goiânia, Goiás),
pois o crescimento exponencial com curva em vertical e com previsão baseada em
modelos ainda para o mês de janeiro de 2022, (ver estatísticas em: Universidade de Washington -
EUA), foram decisivos para o adiamento
das aulas presenciais em Educação Física e a manutenção das aulas em EaD. Além
disso, os índices de ocupações de UTIs pediátricas em Goiânia e no Estado de
Goiás registram quase 100% de lotação, o que gera muita preocupação e apreensão
em toda a sociedade. (Ver tabela 01 abaixo)
Tabela 01 - Sistema de Saúde em Goiás em colapso (Fonte: Secretaria Estadual de Saúde em 20/01/2022).
O
discurso de que a variante Ômicron é mais “suave” do que as demais variantes
anteriores é um grande engano e uma armadilha, pois na verdade a variante Ômicron
é menos letal apenas em relação à variante Delta, que é a variante mais letal
do vírus Sars-Cov-2. Mas, a Ômicron continua tão letal quanto o vírus original
de Wuhan e também tão letal quanto às variantes Alfa (a)
e Beta (b), o que gera uma situação preocupante e
grave principalmente para os não vacinados e também para as crianças
brasileiras, cujo processo de vacinação iniciou de forma muito tardia e
desorganizada no país. O fato da variante Ômicron ser mais transmissível que as
anteriores, está provocando sobrecarga e colapso nos sistemas de saúde em todo
o mundo, pelo fato de contaminar mais pessoas em um curto intervalo de tempo.
Para se ter uma ideia da rapidez e aceleração desta nova variante, a título de
comparação, a variante Delta (D) demorava
cerca de 2 a 3 semanas para duplicar o número total de contaminados, já a
variante Ômicron leva apenas de 2 a 3 dias para duplicar o total de contágios
numa população. Os sintomas considerados “menos graves” provocados pela
variante Ômicron, na verdade se devem não somente às suas várias mutações
genéticas na proteína spike, mas assim como também ao aumento da imunização da
população provocado pela vacinação em massa. Os efeitos da vacinação e o fato
da variante Ômicron não ter êxito em infeccionar os pulmões, mas apenas o trato
respiratório superior (boca, garganta e nariz) tem sido o grande responsável
pela diminuição de óbitos em relação às variantes anteriores.
O
grande problema relacionado à variante Ômicron se deve à sua alta transmissão,
que em termos proporcionais pode levar ao colapso das redes hospitalares ao
redor do mundo. E essa característica importante relacionado à sua alta
transmissibilidade a torna uma variante de grande preocupação, ao contrário do
que pensam muitos especialistas do assunto.
Em
Goiás, nesta segunda quinzena de janeiro, após a prevalência da variante Ômicron,
estima-se que o índice de transmissão (Rt) esteja oscilando entre 2,5 e 3,0, o
que significa 100 pessoas contaminadas são capazes de infectar outras 300
pessoas em um único evento. A velocidade
de transmissão da variante Ômicron é assustadora, não fazendo mais sentido
classificar eventos em super-espalhadores, pois qualquer evento em que ocorra
aglomerações se torna super espalhador em se tratando da nova variante Ômicron.
As mutações virais seguem as leis da Seleção Natural de Charles Darwin, o objetivo para o surgimento de novas variantes é sempre a perpetuação e a manutenção do próprio vírus na natureza, e sempre irá prevalecer a variante mais adaptada após as mutações. As mudanças genéticas seguem efeitos probabilísticos, e entre as infinitas mutações, existem algumas que se tornam mais adaptadas ao meio. Tais modificações e adaptações, porém, são limitadas e dentro das combinações aleatórias dos genes, tais mudanças são guiadas por regras e leis próprias. Por exemplo, o vírus ao sofrer mutações não pode ser tudo o que ele quiser ser ao mesmo tempo. Não surgirá uma variante que seja ao mesmo tempo mais letal e mais transmissível do que a sua antecessora. Ou ela será mais letal e menos transmissível ou então menos letal e mais transmissível. A Entropia (DS) do sistema deve sempre aumentar, regendo e organizando as novas combinações e organizações moleculares. Por isso, uma nova variante que seja ao mesmo tempo mais letal e mais transmissível pode até surgir, porém, seria altamente instável e com probabilidade remota de prevalecer sobre as demais, sendo então eliminada no processo da seleção natural. O vírus Ebola é o mais letal da natureza, porém, possui baixa transmissibilidade comparada, por exemplo, à atual variante Ômicron do Sars-Cov-2, que é infinitamente menos letal do que aquele. Mas, a Ômicron, por sua vez, é muito mais transmissível do que o vírus do sarampo, que era até então classificado como o vírus mais transmissível da natureza. O vírus do sarampo possui uma transmissibilidade de 1:15 (uma pessoa contaminada transmite para quinze outras pessoas), já a variante Ômicron possui uma transmissibilidade maior, de 1:20 (uma pessoa contaminada transmite para vinte outras pessoas). (Ver gráfico abaixo).
A
super onda da Ômicron possui um padrão que vem se repetindo por vários países ao
redor do mundo, apesar das diferenças demográficas e regionais, observa-se que
a sua transmissão é muito rápida, levando em média de 4 a 5 semanas para
atingir o seu pico, como tem-se constatado na África do Sul, também em vários
países da Europa como no Reino Unido e ainda no continente americano, como é o
exemplo do Canadá. Outro fator importante é que o seu decaimento é também tão
rápido quanto a sua fase de crescimento, levando o mesmo tempo (4 a 5 semanas)
para então iniciar a fase terminal de propagação da super onda. (Ver Gráfico
03 abaixo).
Pelos
dados da Ômicron no Brasil, a super onda provavelmente tenha se iniciado na
última semana de dezembro, durante o período das festividades natalinas.
Seguindo então o padrão da Ômicron no mundo, teremos o pico (maior número de
casos e infecções) na primeira semana de fevereiro. Levando em conta que o seu decaimento
pode levar o mesmo tempo para atingir o pico, logo apenas nas primeiras semanas
de março teremos uma estabilidade com diminuição expressiva dos contágios. (Ver
gráfico 04 abaixo). Segundo projeções em modelagens matemáticas da
Universidade de Washington, nesta segunda quinzena de janeiro estamos tendo
cerca de 1 milhão de contágios/dia, e para a primeira semana de fevereiro, onde
ocorrerá o pico da super onda, teremos mais de 2 milhões de contágios/dia,
números estes muito diferentes das estatísticas oficiais que além de
subnotificadas, sofreram uma recente sabotagem no sistema (erroneamente denominado
de “apagão”).
As
aulas de Educação Física e a variante Ômicron
Durante
o período de existência da super onda da variante Ômicron, as aulas presenciais
em escolas, creches e em universidades devem ser suspensas e a sugestão é o retorno temporário das aulas virtuais pela
internet. Em Goiás, por exemplo, no dia 17 de janeiro foram inicializadas as
aulas nas escolas da rede privada e no dia 19 de janeiro começaram as aulas nas
escolas públicas municipais e estaduais, promovendo a mobilidade de mais de um
milhão de crianças e adolescentes em todo o Estado. Tal fato denota uma total
irresponsabilidade dos gestores públicos e uma atitude errônea em subestimar as
consequências e os danos provocados pela variante Ômicron. O mantra que diz ser
a escola local seguro em tempos de pandemia, não possui nenhum respaldo
científico, pois escolas, creches e universidades são locais de aglomeração e
de contatos por definição. Na atual fase de expansão acelerada da pandemia,
tendo o protagonismo da variante Ômicron, estando o Rt (coeficiente de
transmissão) em Goiás entre 2,5 – 3,0, jamais deveriam abrir escolas, creches
ou universidades neste período e com estes números citados em plena elevação, ainda
mais sabendo que a maioria das crianças e adolescentes ainda não foram imunizados
pela vacinação.
As
aulas de Educação Física também devem ser suspensas neste período específico de
descontrole da pandemia, sejam as aulas realizadas em quadras abertas,
piscinas, campos ou ginásios. Quando a pandemia está fora de controle, ou seja,
quando o Rt > 1 significa que quaisquer que sejam os protocolos de biossegurança
adotados, por mais rigorosos que sejam, serão todos ineficazes em locais que
gerem aglomerações, como é o caso específicos de escolas ou universidades.
Neste contexto, a melhor atitude a ser adotada é a suspensão imediata das aulas
presenciais, adotando o modelo de aulas virtuais, a fim de se evitar novos
contágios, surtos, internações
hospitalares e óbitos.
Existem normas e protocolos importantes
a serem utilizados em aulas de natação, como o rodízio de alunos,
distanciamento (um aluno por raia), disponibilização de álcool em gel, uso de
máscaras, protetores faciais pelos professores, escalonamento de horários por
turmas, passaporte vacinal e etc. Porém, a continuidade ou não das aulas deve
obedecer a rígidos critérios epidemiológicos relacionados ao grau de contágios
e de óbitos na cidade ou país. Caso contrário, nenhuma destas normas ou
protocolos, por mais rígidos que sejam, surtirão o efeito esperado no que tange
à proteção de alunos e de professores nas aulas de natação, pois não existe
protocolo sanitário com eficácia garantida quando se registra crescimento na
curva exponencial de contágios (Rt > 1).
O chamado coeficiente de transmissão
(Rt) mede a velocidade de transmissão do vírus, permitindo acompanhar a taxa de
evolução e a dinâmica da pandemia ao longo do tempo. Como mostra o gráfico 06 acima, quando a curva sobe (ascendente) significa que a taxa de transmissão
está em aceleração (Rt > 1), indicando que os contágios estão aumentando.
Quando a curva é descendente, significa que Rt<1, logo os contágios
estão diminuindo ao longo do tempo. Quando Rt = 1 , significa que a curva é
constante (platô). Por exemplo, se numa dada cidade o Rt = 2,3 (Rt > 1),
significa que 10 pessoas transmitem o vírus para outras 23 pessoas, mostrando
que a pandemia está fora de controle e crescendo. Se o Rt = 0,5 (Rt<1)
demonstra que 10 pessoas contaminadas transmitem o vírus para outras 5 pessoas,
assim sendo a pandemia está sob controle e em diminuição. As aulas de natação
só devem ser realizadas quando o Rt <1 e ainda quando os números absolutos
de contágios e de óbitos também forem baixos. É importante destacar também que
segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), para a abertura de escolas e
quaisquer outras atividades não essenciais, o número de testes positivios em
RT-PCR da população nunca deve ser superior a 10% (100 testes positivados para
cada 1.000 pessoas testadas)
Portanto, não basta apenas a adoção de
critérios de biossegurança nas aulas ou em escolas de natação. O uso de
álcool em gel nas mãos, medidor de temperatura, máscaras, passaporte vacinal e
protetores faciais de acrílico não são capazes de garantir total segurança de
alunos e de professores numa escola ou academia de natação sem a observação
adequada das estatísticas atualizadas da pandemia em determinada localidade.
É fundamental ainda observar a dinâmica de evolução do vírus na cidade ou
região na qual residem os sujeitos envolvidos nas atividades de ensino e
aprendizagem da natação. Quando, por exemplo, o coeficiente de
transmissão (Rt) em uma cidade for superior a 1, (Rt>1) indicando
aceleração de contágios numa dada região, as aulas de natação devem ser
suspensas, pois não existem protocolos seguros e eficazes para aulas
presenciais de natação quando a curva exponencial de contágios é crescente (Rt>1),
e o melhor a se fazer nesta situação é o isolamento social e o cancelamento das
atividades não essenciais, como por exemplo as aulas de natação e o fechamento
de escolas e creches. Porém, não é isso o que estamos presenciando em
Goiás e no Brasil. Com a flexibilização de todas as atividades econômicas não
essenciais e o total descontrole da pandemia em Goiás com o advento da variante
Ômicron, estamos assistindo o surgimento de uma gigantesca terceira onda de
contágios e com características tão danosas e agressivas quanto a primeira e a
segunda onda que assistimos no segundo semestre de 2020 (1º onda) e
recentemente em março e abril de 2021 (2º onda), podendo infelizmente produzir
maiores danos e vítimas, não com relação ao número de óbitos, graças à
imunização da população através da vacinação, mas tendo consequências danosas
referentes ao colapso do sistema de saúde e óbitos de pessoas não vacinadas e
crianças.
As observações e análises importantes para
o reinício das aulas presenciais em Educação Física devem levar em consideração
as seguintes condições:
1) 1) Rt<1 – O índice de transmissão deverá sempre estar abaixo de 01,
indicando que a pandemia está sob controle na região;
2) 2) Positividade de testagem < 10% - O percentual de testagem em massa
deve sempre estar abaixo de 10% na determinada região ou cidade analisada,
indicando baixa transmissão;
3) 3) Os contágios devem estar em decréscimo durante três (03) semanas
consecutivas;
4) 4) Os leitos de UTI’s e de enfermarias devem sempre estar abaixo de 50% a
fim de permitir assistência aos doentes infectados;
5) 5) Deve-se construir uma logísitica robusta e eficaz de testagem,
rastreamento e isolamento de casos, para quebrar a transmissão pelo vírus;
6) 6) Exigir o passaporte da vacina a todos os sujeitos que participam das atividades e que adentram nos locais de aulas.
BiSites consultados:
Coronavirus Pandemic (COVID-19) - Our World in Data
Casos diários de Covid podem chegar a 1 mi no Brasil, diz universidade (metropoles.com)
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