Pandemia, Trabalho e Racismo



Atualmente tem-se constado um número gigantesco de contágios e de mortes por covid-19 no Brasil, sendo computados hoje 3.717.156 de contágios e 117.665 mortos, números absurdamente altos, mesmo sabendo que estas estatísticas oficiais são todas subnotificadas. O que observamos na verdade é que todas essas mortes se devem essencialmente à falta de assistência médico hospitalar às vítimas do coronavírus. Não somente no Brasil, mas em todo o mundo, seja em países ricos ou pobres, o atendimento médico hospitalar se transformou em “business”, ou seja, em um grande negócio do mercado mundial. 

O sistema capitalista não possui nenhum compromisso com a qualidade ou acesso à saúde pelos trabalhadores em geral. E quando a saúde das pessoas se transforma apenas em mercadoria, o que se vislumbra no presente é a exclusão e o genocídio de trabalhadores pobres em todo o mundo, seja em países ricos como os EUA ou em países pobres, como no caso do Brasil. Mesmo possuindo um sistema público e gratuito de saúde (Sistema Único de Saúde – SUS), que atende uma grande parte da população mais pobre e carente e que não possuem condições de pagar um plano de saúde privado, a pandemia contabiliza milhares de vítimas entre a classe mais pobre. Tal sistema público brasileiro, o SUS, encontra-se atualmente sucateado, com precarização das condições de trabalho e ainda com baixa remuneração dos trabalhadores da saúde. Diante desta triste realidade, não podemos nunca dizer que a covid-19 é uma doença “democrática”, pois ela atinge de forma distinta, as diferentes classes sociais, porém, com impactos, consequências e índices de mortalidade bastante diferenciados. Quando se observa e analisa os números da pandemia no Brasil, vê-se claramente que a pandemia é capaz de desmascarar mazelas e injustiças latentes no seio da sociedade brasileira, como as disparidades e abismos sociais, a violência de gênero e ainda o racismo estrutural.

Em agosto de 2020 o Brasil ultrapassou a marca de 100 mil mortes por covid-19 e com mais de 3 milhões de contágios, ficando atrás somente dos EUA em termos numéricos. Estes não são apenas números, a covid-19 é um agente social, e por trás desta complexa e macabra  matemática dos números na pandemia, existem nuances, significados e sentidos que apenas a matemática não é capaz de explicar sozinha, pois exige um olhar mais acurado e interdisciplinar para uma situação tão caótica em que vive o Brasil neste período atual em que os contágios ainda encontram-se descontrolados e em altíssima aceleração.

Segundo a OMS o índice estimado de letalidade do novo coronavírus no mundo é de 0.6%, ou seja,  para cada grupo de 1.000 contaminadas, 6 pessoas acabam indo a óbito. Este índice é considerado altíssimo, e demonstra que o vírus é altamente mortal. Para se ter uma ideia, o vírus da gripe A (H1N1) na pandemia de 2009 possuía um índice de letalidade igual a 0,01%. O índice de letalidade pode variar de região para região e também pode alterar em distintas fases da pandemia. O número de pessoas contaminadas pelo vírus Sars-Cov-2 no Brasil é muito grande, porém o percentual de letalidade não é igual para todos os grupos de pessoas infectadas. Observou-se que o percentual de mortes entre pessoas negras internadas com a covid-19  é maior do que em brancos também contaminados. Constatou-se também que a letalidade entre pacientes de hospitais públicos no Brasil que tratam da covid-19 é bem maior do que em hospitais privados.  A explicação para essas gritantes diferenças não se dão através da genética destes pacientes, mas sim através da origem e da dinâmica de suas classes sociais.  

Pesquisas recentes divulgadas pelo NOIS (Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde, 2020) da PUC do Rio de Janeiro, constataram que mais da metade dos negros internados por Covid-19 em hospitais no Brasil morreram. Segundo estes estudos, foram analisados 29.933 casos de covid-19, deste total 8.963 eram negros e 54,8% deles morreram. Na mesma pesquisa dos 9.998 brancos internados 37,9% morreram com diagnóstico de covid-19. Analisando os números da pesquisa, pessoas negras entre 30 e 39 anos, tem 2,5 vezes mais chances de morrerem ao serem internadas por Covid-19 do que pessoas brancas da mesma idade. A explicação da origem destas disparidades numéricas se dá através do chamado racismo estrutural existente no Brasil que promove as diferenças sociais entre pessoas brancas e negras no Brasil. Pesquisas realizadas nos EUA também apontam um índice maior de letalidade pela covid-19 entre negros naquele país.

O racismo estrutural existente no Brasil é o responsável pelos tristes e nefastos números da pesquisa acima. Por mais de 500 anos os negros no Brasil sofreram e ainda sofrem discriminação e exclusão aos meios de acesso ao trabalho, saúde, lazer, estudo e moradia. A herança escravocrata, as imensas desigualdades sociais e a legitimação do racismo e da miséria pelo sistema capitalista são os principais promotores da alta de letalidade por covid-19 entre os negros brasileiros. Obviamente que as pessoas negras no Brasil que possuem menos acesso às políticas públicas de acesso à saúde de qualidade, à moradia digna, ao saneamento básico, e que possuem menores salários e renda do que os brancos,  que tem maiores dificuldades de acesso à escola e ao ensino superior, que são também excluídas do lazer e de uma alimentação completa e de qualidade em comparação com os brancos, consequentemente terão maiores comorbidades como pressão alta, diabetes, sobrepeso e várias outras doenças que podem agravar o estado de saúde ao contraírem o coronavírus, aumentando assim o chamado índice de letalidade da covid-19.

Pretos e pardos no Brasil possuem o maior índice de letalidade da covid-19 em internações, e também segundo o IBGE, formam a maioria dos trabalhos de menor remuneração, o que evidencia mais uma vez a questão do racismo estrutural no Brasil e a sua relação com a pandemia, já que as pessoas mais expostas são as que possuem maior facilidade de adquirir a doença. Enquanto uma minoria de classe mais alta faz o chamado trabalho remoto de suas casas, a maioria formada pelos mais pobres são obrigados a trabalharem no front da pandemia, usando diariamente o transporte coletivo, trabalhando nas ruas, supermercados, nas indústrias e no comércio em geral, possuindo as funções ou cargos de entregadores de app, vigias, motoristas, funcionários de limpeza, balconistas, vendedores, garis, vendedores ambulantes e etc.

A pandemia escancara as injustiças sociais no Brasil, colocando em evidência o racismo estrutural brasileiro e as suas consequências. No Brasil, um dos países mais racistas do mundo, o vírus Sars-Cov-2 não mata de forma igual e democrática, o vírus carrega a marca das injustiças e misérias sociais como o racismo, e acaba matando mais os trabalhadores pobres e também os trabalhadores pretos.

 

                                                                          

A matemática dos contágios e os números absurdos na pandemia.




Quando se estuda epidemias ou pandemias, é muito útil e imprescindível o uso das ciências matemáticas a fim de se compreender melhor a dinâmica e o funcionamento dos elementos, das variáveis e dos sujeitos envolvidos no contexto em questão, facilitando assim a compreensão e a análise do real. Uma epidemia causada por determinado vírus, surge na natureza obedecendo a matemática dos contágios, tal matemática segue certa lógica, mas nem sempre seus padrões são previsíveis e exatos, o que dependerá muito das variáveis  e dos dados que se tem em mãos, da sua aproximação ao comportamento real  e também das características específicas do vírus. Sendo assim, às vezes, é possível realizar projeções e simulações aproximadas sobre o comportamento de contágios dentro de uma pandemia, corroborando para o seu estudo e consequentemente para o seu efetivo combate e extinção. É muito importante também tentar compreender sobre a maneira na qual se espalha uma doença através dos contatos humanos, as oscilações e a sua dinâmica no tempo e no espaço. 

Imaginemos, por exemplo, uma escola infantil de médio porte, que possua 300 crianças matriculadas no total. Não podemos esquecer que escolas, por definição, são locais de aglomerações de alunos, professores, funcionários e pais de alunos. E estudos recentes apontam que numa abertura de escola, apenas até o segundo dia de aula, apenas uma criança é capaz de realizar em média cerca de 808 contatos com outras pessoas, considerando apenas o trajeto de sua casa para a escola e da escola para casa (ver em Jornal EL PAIS 2020). Pois a mobilidade de uma criança à escola envolve uma complexa dinâmica social que vai desde o contato intra-familiar, o translado para a escola, o uso do transporte coletivo, por exemplo, contatos com prestadores de serviços, contatos intra-escolares com colegas de sala, professores e funcionários da escola.

Seguindo a matemática da escola  de educação infantil, tomada no exemplo acima, podemos então fazer contas simples de álgebra e descobrir que somente até o terceiro dia de aula, teremos no total cerca de 300x808 = 242.400 contatos realizados por todas essas crianças de uma única escola. Imaginemos agora que apenas uma destas crianças se contamine na escola ou no trajeto casa-escola ou escola-casa. Levando-se em conta que a maioria das crianças que testam positivo para a covid-19 são assintomáticas e que as crianças contaminadas possuem mais carga viral do que um adulto jovem também contaminado, então, pode-se perceber a gravidade e o perigo de se aumentar grandemente as contaminações através da mobilidade num ambiente escolar, principalmente quando não se tem o controle de uma pandemia e quando os contágios seguem em alta escala, mesmo sabendo que estudos empíricos demonstram que as transmissões a partir de crianças para adultos possuem menor probabilidade de ocorrer, do que a transmissão realizada a partir  de pessoas adultas. Nota-se entretanto, que é grande o risco em se contaminar crianças escolares em regiões onde não há controle do vírus e as transmissões são altas (Ro>1), como atualmente ocorre no Brasil. E também deve-se ressaltar que os riscos tornam-se ainda mais altos quando as crianças ao serem contaminadas, levam o vírus para as suas casas, e ao levarem o vírus para o ambiente familiar acabam contaminando também parentes, principalmente aqueles pertencentes ao chamado grupo de risco, como os avós, por exemplo. Vale lembrar ainda que um porcentual consideravelmente grande de professores e de funcionários das escolas no Brasil são pertencentes ao chamado grupo de risco para a covid-19.

Vê-se assim, que o grande risco na abertura de escolas em países como o Brasil, que não possui uma política pública nacional de  testagem em massa, de rastreamento e de isolamento de pessoas contaminadas com o vírus Sars-Cov-2, é o surgimento de uma descontrolada e avassaladora segunda onda de contágios. A segunda onda representa o encontro de pessoas contaminadas com aquelas que estavam até então isoladas em suas residências. Quando este grande grupo de pessoas que outrora estavam isoladas e sem contato com o coronavírus encontram e se socializam com pessoas contaminadas, faz surgir assim a chamada segunda onda de infectados, que pode vir a ser até mais avassaladora do que a primeira onda.

O crescimento e a velocidade das epidemias obedecem às chamadas curvas exponenciais, onde a velocidade do surgimento de novos casos estará sempre relacionada ao número de casos pré-existentes, crescendo vertiginosamente numa progressão geométrica, podendo dobrar em semanas ou dias a quantidade total de novos casos e de óbitos, a depender de sua dinâmica. A forma e a trajetória desta curva se relaciona a vários fatores, como o nível de isolamento populacional, o uso de protocolos de saúde, como por exemplo, o uso obrigatório de máscaras em locais públicos, a existência ou não de vacinas, da quantidade de pessoas imunes e também às características do próprio vírus.



O chamado coeficiente de transmissão (Ro) mede a velocidade de transmissão do vírus, ou seja, ele é capaz de nos informar se a pandemia em determinada região ou país está em processo de aceleração ou de desaceleração. Para se medir o Ro basta apenas dividir o número total de pessoas contaminadas atualmente pelo número total de pessoas contaminadas nos sete dias anteriores. Sendo Ro > 1 a epidemia está em estágio de crescimento acelerado, e sendo Ro < 1, significa que a pandemia está em processo de desaceleração. Por exemplo, uma região com Ro = 1,2 significa que 10 pessoas são capazes de contaminar outras 12 pessoas (aumento da transmissão). Se o Ro = 0,8 significa que 10 pessoas são capazes de contaminar outras 8 pessoas (transmissão em desaceleração).

Quando se promove o isolamento social é justamente para tentar frear a curva exponencial e achatá-la, ou seja, de permitir que o sistema de saúde local tenha condições de atender à grande demanda exigida pela pandemia, sem permitir com que o sistema de saúde entre em colapso. Entretanto, o que assistimos no Brasil, durante o primeiro semestre de 2020, foi que nenhum governo estadual e muito menos o governo federal conseguiram achatar a curva e evitar o colapso do sistema de saúde nas diferentes regiões do país. As curvas atingiram o pico abruptamente e de forma avassaladora nas regiões Norte, Sul, Centro-Oeste, Nordeste e Sudeste do Brasil sem exceções. De fato o que provocou a desaceleração e a queda da curva de contágios e de óbitos em determinadas regiões foram, infelizmente, o grande número de mortos e de contaminados. Se construiu uma verdadeira "barreira" de contágios nos estados brasileiros que desaceleraram a curva exponencial em tempos distintos, porém, esta barreira foi constituída basicamente pelo número exagerado de mortos e de pessoas contaminadas, o que fez o vírus diminuir a sua velocidade de propagação. Somente em agosto de 2020 alcançamos o número assustador de mais de 114 mil mortes e mais de 3 milhões de pessoas contaminadas, lembrando que esses são os números oficiais são subnotificados. Segundo pesquisas realizadas pela Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) os dados reais ultrapassam seis a sete vezes os dados oficiais. Deixar a própria natureza conduzir uma pandemia e permitir com que o alto número de contaminados e mortos desacelere por si mesmo a curva de crescimento exponencial, pode-se denominar tal política de extermínio de classe, onde a maior parte das vítimas são trabalhadores pobres, pretos, índios e idosos.

unca houve no Brasil quarentena verdadeiramente falando, as constantes e apressadas flexibilizações do comércio, a forte pressão do governo Federal para o fim do isolamento social adotado por governadores e ainda a falta de remuneração salarial por parte do Estado para que as pessoas   pudessem realmente se manterem em casa durante as quarentenas, fizeram fracassar qualquer tipo de isolamento social no país. Não é possível para as famílias de trabalhadores  se manterem afastadas do trabalho e em casa sem uma remuneração salarial compensatória e digna por parte do Estado. O chamado auxílio emergencial além de ter sido tardio, com um valor inicial irrisório de apenas 600 reais, tornou inviável qualquer forma de quarentena ou de isolamento social eficaz para a  maioria dos trabalhadores e de desempregados do Brasil. Era dever do Estado financiar e garantir  a quarentena da população brasileira durante o primeiro semestre de 2020 com remuneração salarial digna (valor maior ou igual a 01 salário mínimo) para todos os trabalhadores e desempregados  brasileiros que foram obrigados a ficarem em casa durante a quarentena. Tal medida não somente permitiria a realização da quarentena por milhões de brasileiros, reduzindo os contágios e mortes, assim como também garantiria a manutenção dos empregos a curto e médio prazo.

O que assistimos atualmente é o vírus totalmente fora de controle e matando cerca de mil pessoas diariamente no Brasil, e os governos estaduais e o governo Federal pressionando os trabalhadores para uma “vida normal”, o que a imprensa denomina de “novo normal”, porém, um normal que não existe e nunca existiu nem mesmo antes da pandemia. Se antes da pandemia os números da miséria e de desempregados eram altos, promovendo uma vida anormal e desumana para milhões, agora na pandemia, esses números aumentam ainda mais. A pandemia apenas potencializa e desnuda as injustiças e mazelas do Brasil  e caracteriza o extermínio de classe como uma política pública adotada pelo Estado brasileiro no período da pandemia do novo coronavírus,

Mundo do Trabalho e a Pandemia



Documentário - "Epicentro - 24h em Wuhan"-  (2020)

A província de Wuhan na China foi a primeira região do planeta a experimentar uma epidemia com o vírus Sars-Cov-2. O documentário acima produzido por uma TV chinesa não mostra, mas as autoridades de Pequim agiram de forma a tentar esconder do mundo os efeitos do vírus na sua população durante as primeiras semanas de contágio, numa tentativa clara em querer abafar o surto do novo coronavírus em Wuhan. O médico oftalmologista chinês Li Wenliang tentou alertar as autoridades de seu país sobre o início de um surto na sua cidade, porém, fora reprimido pela polícia chinesa, cuja intenção era de manter em segredo o surto provocado por um vírus, que até então era desconhecido. O médico Li contraiu o vírus ao tratar de um paciente no hospital de Wuhan e faleceu poucos dias depois do contágio. A morte do medíco Li provocou uma série de revoltas na população chinesa e teve repercussão na mídia mundial, o que levou o governo daquele país a abrir uma investigação sobre o novo surto em Wuhan e as denúncias de Li Wenliang. Tais tentativas autoritárias do governo Chinês ao tentar esconder do mundo a epidemia em Wuhan levaram ao atraso nas políticas de rastreamento e contenção ao vírus, o que permitiu assim a sua proliferação para além das fronterias chinesas.

Há comprovações científicas recentes de que o novo coronavírus, também conhecido como Sars-Cov-2, seja originário de morcegos que habitam nas cavernas de regiões centrais da China. O seu contágio em humanos se deu provavelmente através de um outro animal hospedeiro, chamado de intermediário, do qual houve a transmissão para os seres humanos (provavelmente o mamífero denominado pangolim). O mercado de Wuhan não comercializava morcegos, entretanto, havia a venda de vários outros animais selvagens que podem ter servido como o estopim dos contágios. A verdade é que o surto do novo coronavírus surgiu em Wuhan, porém, o início exato do primeiro contágio em Wuhan ainda está sob investigação ou talvez jamais se descubra. Mas o que importa destacar é que a caça e comercialização de animais selvagens deu origem ao surto de Sars-Cov-2. A destruição da natureza e a exploração de animais selvagens são capazes de produzir desequilíbrios na natureza e promover o desenvolvimento de surtos e a produção descontrolada de vírus, tal qual assistimos hoje no mundo.

O vírus Sars-Cov-2 está presente em morcegos, porém, o vírus não ataca o sistema imunológico destes mamíferos voadores. Entretanto, quando estes animais são retirados de seu habitat natural e aprisionados em redes ou gaiolas, este ambiente de estresse gerado sobre os morcegos é capaz de alterar drasticamente sua relação “amistosa” com o novo coronavírus. Ou seja, em ambiente de estresse, o sistema imunológico do morcego não é capaz de reagir à presença do vírus, provocando a sua multiplicação descontrolada e exagerada. E foi neste contexto que houve o contágio em animais intermediários e em seguida nos seres humanos. Dentro desta dinâmica de ação viral, houveram também mutações genéticas do próprio vírus que possibilitaram ainda a sua perfeita adaptação ao corpo humano.

Vemos no documentário “Epicentro – 24h em Wuhan” um cenário que se espalhou no mundo inteiro, hospitais lotados, médicos sobrecarregados, falta de insumos hospitalares, populações em quarentena, ruas e cidades inteiras vazias.

No Brasil e em Goiás também assistimos a transmissão comunitária do vírus e o aumento exponencial de transmissões e de mortes. Ao contrário de Wuhan onde se fizeram os procedimentos e protocolos adequados de quarentena e depois de testagem em massa, rastreamento, isolamento de contatos e tratamento hospitalar dos infectados, no Brasil, o que assistimos e presenciamos são poucas testagens, ausência de políticas públicas adequadas e efetivas de mitigação das transmissões do vírus Sars-Cov-2.

Dentro deste triste cenário de ausência de testagem em massa, a falta de atendimento hospitalar adequado às vítimas da Covi-19 e o crescente e alarmante aumento do número diário de mortos diagnosticados com esta doença, temos que refletir, pensar e repensar também sobre as decisões e caminhos a serem tomados pelas escolas, universidades e quais enfrentamentos a serem protagonizados, nesta atual realidade, por parte de professores, alunos e seus familiares. Sabendo que, neste contexto de total descontrole do vírus no Brasil, e sem uma vacina eficaz, será impossível o retorno presencial às aulas em escolas ou universidades, sem colocar em risco a vida de alunos, professores e familiares. E do outro lado temos o ensino à distância que no Brasil tem provocado maior aumento da exclusão social, a chamada exclusão social de alunos pobres e trabalhadores que não tem acesso à uma internet de qualidade. O novo coronavírus descortina por completo as nossas mazelas, nossa miséria e os nossos abismos colossais.

 

 

 


O Mundo do Trabalho no contexto da Pandemia do Sars-Cov-2


Escrito por Renato Coelho)

A destruição acelerada da natureza, a intensificação da precarização do trabalho e da vida humana pelo sistema capitalista, fizeram surgir a pandemia do vírus Sars-Cov-2 e seus efeitos nefastos por todas as nações da Terra.
A mercantilização dos serviços básicos de saúde, a total ausência de assistência médica aos trabalhadores, aliado ao total descompromisso e desinteresse do Estado pela saúde e pela vida humana, promovem o genocídio de milhões de trabalhadores e trabalhadoras pobres em todo o mundo, onde o lucro do capital vale mais do que a vida humana.
A pandemia do coronavírus descortina as desigualdades, as misérias e a super-exploração dos trabalhadores em todo o mundo. Enquanto milhões de trabalhadores perdem o emprego, a renda e a própria vida para a pandemia, as grandes empresas e multinacionais faturaram cifras astronômicas com lucros recordes durante os períodos de quarentena e de isolamento social verificados durante o primeiro semestre de 2020.
As flexibilizações das leis trabalhistas, as reduções salariais, o desemprego, o trabalho remoto e o ensino à distância foram potencializados durante a pandemia do Sars-Cov-2 e em consequência o aumento das desigualdades s
(ociais, da miséria e da precarização da vida humana.

Neste espaço virtua Escrito l iremos analisar a dinâmica e as contradições do mundo do trabalho no sistema capitalista em meio à pandemia do novo coronavírus. A pressão de governos, da mídia e de empresários para a volta à normalidade e a falácia maquiavélica do chamado "Novo Normal" traduzem os valores e os princípios que norteiam e regem a atual sociedade capitalista, desvalorizando a vida humana e priorizando tão somente a produção de mercadorias e a acumulação do capital.

O vírus Sars-Cov-2 não é um vírus chinês, é na verdade um vírus pertencente à natureza e assim como todos os demais vírus, são fundamentais para o equilíbrio dos ecossistemas e da vida na Terra. Os efeitos nefastos da pandemia são consequência do modo de produção capitalista e de sua super-exploração do homem e da natureza. A causa principal das milhões de mortes em todo o planeta não é a covid-19, mas sim a total ausência  de assistência médica de qualidade à maioria dos trabalhadores em todos os países da Terra, sejam países ricos ou pobres, sendo que, para estes últimos as consequências da falta de assistência à saúde são piores e mais catastróficas ainda.
Nosso propósito será o de relacionar educação, esporte, educação física e trabalho numa sociedade capitalista, marcada por desigualdades sociais, exploração, precarização em tempos de pandemia do vírus Sars-Cov-2.